22 de janeiro de 2023 às 07:54

SERTÃO, VIVO SERTÃO!

Crônica de Elias Daniel de Oliveira, lida e interpretada por Evaldo Carvalho no dia 22 de janeiro de 2023 no Programa Show de Domingo.

Crédito:tripadvisor

Sendo São Sebastião protetor dos fazendeiros, os roceiros também podem usufruir desta proteção. A bem da verdade, ele protege a terra, o rural e os animais que ali moram. Houve um tempo em que o sertanejo era vítima de preconceitos dos moradores da cidade, mas hoje os tempos são outros, fazendo reverter a situação com a chegada de muita gente do meio urbano migrando para as roças ou pelo menos fazendo dela o seu meio de lazer, relaxamento ou lugar para repor as energias.

São inúmeras músicas, fundamentalmente as raízes que apresentam a beleza do sertão. Como é linda a parceria com a natureza! O turismo rural tem se destacado de maneira acirrada com os Hotéis Fazenda ou mesmo ranchos que tiram as pessoas da cidade e os levam para sentir o cheirinho de mato, a aproximação com os animais, o cantar dos pássaros, o banho nos riachos ou cachoeiras, a comida sem conservantes e feita de maneira rústica, o silêncio jamais alcançado nos grandes centros e a sensação de estar num paraíso. Até quem não curte um modão, dá o braço a torcer por perceber que ali não é lugar de se escutar um funk, rock ou pagode. Na hora de dormir é difícil diferenciar se o olho está aberto ou fechado com tanto breu. Há quem diga que um ambiente deste é excelente para a cura da depressão. Quem vive em lugares muito barulhentos, nunca tem oportunidade sequer de ouvir a própria voz, quanto mais falar consigo mesmo. Esta fuga do agito ajuda muito a valorizar aquilo que é simples e ao mesmo tempo exuberante.

O sertanejo já foi muito criticado pelo seu jeito de andar, linguajar, modo de vestir e simplicidade. Às vezes chegava até ser confundido com mendigos ou moradores de rua a tal ponto de ser recusado nalguns comércios sob pretexto de não possuir dinheiro, embora tivesse. O homem do sertão nunca ostentou possuir um exagerado número de roupas, sapatos e joias. Ele sempre teve o suficiente sem esbanjar, preferindo muito mais voltar a atenção para o seu principal objetivo, o de cuidar das terras, dos animais e da lida. Na sua lista de tarefas diárias, a oração, as novenas e a missa, mesmo que assistida pela TV. A sua sabedoria foi adquirida com o trabalho, com o ensinamento dos pais e fundamentalmente com o amor à natureza. Ir à cidade, somente na necessidade, a roça é o seu santuário. Neste contexto nos deparamos com a seguinte situação, o sertanejo nunca foi displicente com os cuidados com a família e mesmo não tendo tido oportunidade de frequentar a escola, nunca impediu que seus filhos fossem estudar, assim, surgiu um novo profissional que, embora fosse para a cidade, optou por fazer cursos relacionados ao meio rural e voltaram para administrar a roça com uma nova roupagem carregada de inovações e tecnologias. Alguns mais conservadores acharam aquela ideia desnecessária, haja vista a sua vasta experiência, por sua vez, os progressistas embarcaram nas mudanças fazendo questão até mesmo de aprender também.

A música "Caboclo da Cidade", de Dino Franco e Morai, conta a história de um matuto que fez o sentido inverso, deixou o sertão e foi morar na cidade grande. Casos como este tem aos montes. Na cidade o dinheiro parece valer diferente, rende muito menos e o sertanejo enfrenta situações nunca antes vivido. Na música citada, o matuto comenta que vivendo naquele lugar o mundo parece que virou de cabeça para baixo, de repente ele depara com a filha grávida de um irresponsável fujão, a esposa opta por se modernizar esteticamente e usar roupas que na concepção dele, seria inadequada para a idade dela e por aí vai. Nos seus lamentos, cogita voltar para a roça no interior do Triângulo Mineiro, mas, sem jeito, até mesmo porque o dinheiro acabou. Ainda no seu desabafo, ele diz que, no dia em que foi morar na cidade, vendeu a família e junto dela, a felicidade.

Já Rick e Renner, com a "Casa de Caboclo", enaltece o sertão. Pela canção o matuto recebe a visita de alguém que veio da cidade numa caminhonete jamais vista por aquelas bandas, assustando até mesmo o cachorro. Na música ele comenta que o progresso até já passou e deve ter esquecido dele, o que não o incomoda, por tratar o lugar muito abençoado e gostoso de viver. Ele pede para não reparar a estrada esburacada, muito diferente do asfalto e conforto da cidade, mas é por causa da boiada que transita e tem preferência por aquele caminho. Ao referir-se à água, comentou que ela era muito pura, sem nenhuma necessidade daquelas carregada de tratamento. Como não poderia faltar na maravilhosa recepção do roceiro, o convite para a janta com franguinho caipira com quiabo ou pelo menos um cafezinho adoçado com rapadura. Caso desejasse fazer o quilo, o único barulho que poderia acontecer seria dos passarinhos e grilos. Na despedida, o matuto pede o moço para não esquecer de fechar a porteira, pois ela serve de escudo para proteger aquele paraíso do mundo lá de fora.

Este contato com a natureza precisaria acontecer também nas cidades. Tudo pode começar com o não corte de árvores, o cuidado com o lixo, o tratamento dos rios e córregos que passam no centro urbano, a eliminação ou pelo menos a amenização de todas as poluições e o mais importante, que as pessoas tivessem aquele lado simpático e ético do sertanejo que respeita uns aos outros, é hospitaleiro, muito religioso, trabalhador, não maltrata os animais e os trata como da família, não é esbanjador, sua alimentação é bem natural, enfim, possui um monte de características positivas que poderiam ser aproveitadas por quem mora na cidade.

Chegamos a mais um final! Hoje fazendo uma visita ao sertão! As pessoas parecem até respirar melhor só em assistir novelas, filmes ou clipes que mostram as roças, a natureza e a serenidade de quem vive longe dos grandes centros. O sertão hoje é moderno, possui tratores, tecnologia, computadores, internet, mas nunca perde o seu brilho herdado das raízes e da época que era apenas um ranchinho como nas obras de Mazzaropi.

Fonte: CLIENT

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