29 de agosto de 2021 às 08:11

REVISANDO A TRADIÇÃO

Crônica de Elias Daniel de Oliveira no domingo do dia 29 de agosto de 2021

Crédito:Foto Ilustrativa: Arquivo CN/cancaonova,com

A liturgia da Igreja para este final de semana traz no evangelho o tema TRADIÇÃO. Trata-se de uma palavra latina que significa “entregar” ou “passar adiante”.  Refere-se à transmissão de costumes, comportamentos, memórias, rumores, crenças, lendas, etc. fazendo gerar uma cultura. Para tal existem pontos positivos e negativos e é exatamente sobre isto que conversaremos hoje.

Para inicio de conversa, vamos nos recorrer ao texto bíblico extraído do evangelista São Marcos no capítulo 7: “Os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos? Jesus respondeu: Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens. Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: Escutai, todos, e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassinos, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”.

Sem nenhuma sombra de dúvidas Jesus era um grande mestre. Colocou no bolso aqueles que ficavam apregoados na tradição esquecendo da questão humana e também a mudança dos tempos. É muito comum as pessoas mais velhas dizerem que no seu tempo o mundo era muito melhor. Segundo elas a maneira de educar, estudar, rezar, curtir uma música, falar, vestir, e por ai vai, proporcionava uma pessoa responsável e promissora. A ideia seria a manutenção da tradição em prol de um mundo perfeito. Bom, é claro que os pontos positivos do passado precisam ser contemplados e mantidos, mas os tempos são outros. Temos hoje uma nova maneira de vestir, falar, trabalhar, viver e ser alguém. No que concerne então à modernidade é inadmissível a manutenção dos telegramas, máquinas fotográficas pessoais, máquinas de datilografia, internet discada, mimeógrafo, dentre outros. É chato dizer, mas, virou peça de museu, mesmo que alguns ainda insistam continuar usando. No ponto de vista litúrgico muitas tradições são preservadas para manter o glamour da sua criação, mas são louváveis algumas adaptações com o objetivo de atrair os mais jovens. A cultura militar e também os hábitos da alta nobreza mantêm suas tradições como preservação da disciplina e da história. Ademais, poderíamos recorrer neste momento ao pensamento de André Gide: “Tudo quanto nós próprios descobrimos ou voltamos a descobrir são verdades vivas; a tradição convida-nos a aceitar somente os cadáveres da verdade”.

Voltando ao evangelho, é interessante ver Jesus chamando aquela turma de hipócritas, antes vamos entender o que significa esta palavra, os dicionários dizem que se refere a pessoas que agem como outras, que usam de hipocrisia, que não é leal, e principalmente que não é confiável. Pois bem, a critica estava em cima do fato dos discípulos não lavarem as mãos para comer. Precisamos entender que este gesto ultrapassa a higienização, na verdade ele diz respeito à purificação do corpo. É como se dissessem que eles estavam impuros, em situação de pecado e por causa disto não poderia comer um alimento abençoado. Mas, se eles estavam com Jesus, o filho de Deus, aquele que veio para mudar as tradições, para pregar um mundo novo, por que aquela preocupação? Jesus chamou a atenção deles, vocês deveriam se preocupar com outras coisas. Olhem ao redor e vejam quantos problemas sociais e humanitários estão lhes afligindo, por que não se purificam primeiro para depois falar da turma de Jesus? Eles alegaram que a impureza poderia entrar no corpo com a não lavação das mãos, mas o mestre foi mais preciso: “Não é o que entra no coração do homem que o torna impuro e sim o que sai”. Neste ponto deu aquela bela puxada de orelhas: “É de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassinos, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”.

O grande Sidarta Gautama, conhecido por BUDA, dizia o seguinte a respeito: “Não aceites aquilo que ouves relatar, não aceites a tradição, não aceites uma afirmação só porque ela está nos nossos livros, nem porque está de acordo com tua crença ou porque foi dita pelo teu mestre. Sê uma lâmpada para ti mesmo”. E desta forma vamos nos direcionando ao final do tema de hoje. Aproveite das tradições aquilo que não lhe atrapalhará a viver na modernidade. A bem da verdade o melhor a fazer é aproveitar tudo o que o passado nos ensinou e utilizá-lo como montagem do presente visando o futuro.

Fonte: CLIENT

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