28 de setembro de 2025 às 07:53
REFLEXOS DA IDADE
Crônica de Elias Daniel de Oliveira, lida e interpretada por Evaldo Carvalho no dia 28 de setembro de 2025.
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No dia 27 de setembro em que
celebramos São Vicente de Paulo, lembramos também os idosos. A data perdurou de
1999 a 2006, só que, com o Estatuto do Idoso criado em 2003, alteraram para o
dia 1º de outubro, contudo, no Distrito Federal permaneceram em setembro mesmo.
Faz-se necessário um cuidado e muita conscientização acerca da causa. A questão
do idoso norteará a nossa reflexão de hoje!
Se não houver uma alteração no
percurso, todos ficaremos idosos, esta máxima não falha. A incompreensão e
impaciência que muitas vezes temos com os mais velhos, sofreremos mais tarde. É
comum no desenvolvimento pessoal o desgaste do tempo, isto serve para os
objetos, natureza e fundamentalmente para o ser humano, não faz muito tempo
abordamos este tema. Hoje, contudo, focaremos naqueles ou naquelas que já não
andam, enxergam, falam, memorizam e agem como antes. A pessoa idosa acaba se
tornando dependente dos outros e, infelizmente, alvo de críticas e lamentações.
Colocar-se no lugar deles é o suficiente para perceber as suas limitações e
necessidade de compreensão. Quando se envelhece, o número de remédios se
intensifica e alguns deles acabam provocando outros males. Também é normal
adquirir o mal de Alzheimer, aquele transtorno neurodegenerativo progressivo que
causa a demência e a perda de memória, deterioração cognitiva e problemas
comportamentais, resultantes de danos e morte de células cerebrais, alguns em
mais graus, outros menos. Como é pesado e triste para a família ver o seu idoso
não mais os reconhecendo, da mesma forma ele também deve sentir muito não poder
reconhecer os seus entes.
Uma visita ao asilo, é possível
acompanhar inúmeras histórias, alguns de abandono, outros de aventura ou mesmo
de quem perdeu tudo e não tem mais ninguém. Muitas músicas sertanejas raiz
retratam muitos casos de pessoas que sentiram na pele a realidade hostil da
sociedade que não separa mais um lugar digno para eles, uma delas, o COURO DE
BOI, autoria de Palmeira e Teddy Vieira que mostra a situação de um pai que foi
morar com o seu filho, mas a nora se sentiu incomodada propondo ao marido que
mandasse o velho embora ou caso contrário, ela iria. O desfecho é muito
conhecido, ele arrumou um couro de boi, ofereceu ao seu pai e pediu-lhe que
partisse. A lição principal foi quando o neto correu atrás do avô e lhe pediu
uma parte daquele cobertor, depois resolveu jogar a mesma moeda com o seu pai,
dizendo-lhe que quando ele envelhecesse esta cena repetiria. Outra bem bacana é
a canção O FILHO ADOTIVO, autoria de Arthur Moreira e Sebastião Ferreira da
Silva, assim canta Sérgio Reis: "Com sacrifício eu criei meus sete filhos do
meu sangue, eram seis e um peguei com quase um mês. Fui viajante, fui roceiro,
fui andante e pra alimentar meus filhos, não comi pra mais de vez. Sete crianças,
sete bocas inocentes, muito pobres, mas contentes, não deixei nada faltar. Foram
crescendo, foi ficando mais difícil, trabalhei de sol a sol, mas eles tinham
que estudar. Meu sofrimento... Ah, meu Deus, valeu a pena, quantas lágrimas
chorei, mas tudo foi com muito amor. Sete diplomas, sendo seis muito
importantes que, às custas de uma enxada conseguiram ser doutor. Hoje estou
velho, meus cabelos branqueados, o meu corpo está surrado e minhas mãos nem
mexem mais. Uso bengala, sei que dou muito trabalho, sei que às vezes atrapalho
meus filhos até demais. Passou o tempo e eu fiquei muito doente, hoje vivo num
asilo e só um filho vem me ver. Esse meu filho, coitadinho, muito honesto, vive
apenas do trabalho que arranjou para viver. Mas Deus é grande, vai ouvir as
minhas preces, esse meu filho querido vai vencer eu sei que vai. Faz muito
tempo que não vejo os outros filhos, sei que eles estão bem e não precisam mais
do pai. Um belo dia, me sentindo abandonado, ouvi uma voz bem do meu lado: Pai,
eu vim pra te buscar, arrume as malas, vem comigo, pois venci, comprei casa e
tenho esposa e o seu neto vai chegar. De alegria, eu chorei e olhei pro céu, obrigado,
meu Senhor, a recompensa já chegou! Meu Deus proteja os meus seis filhos
queridos, mas foi meu filho adotivo que a este velho amparou". Marco Brasil
também tem vários poemas que foca o tema e todos estes foram baseados em fatos
reais.
Em se tratando de valores,
percebe-se um choque cultural que atravessa gerações, onde os jovens de hoje
costumam ter dificuldade de lidar com os mais velhos e vice-versa. Os tempos
apresentaram uma nova maneira de viver e alguns costumes antigos foram
extintos, como o hábito de tomar benção, de chamar os pais de senhor ou
senhora, de obedecer ou mesmo de conviver. As músicas mudaram, as roupas também
e tudo parece que foi muito rápido de forma que os mais antigos simplesmente
caíram de paraquedas em mundo diferenciado com muita tecnologia, ideologias e
costumes modernos. Os mais novos se sentiram reais proprietários da sociedade
atual, acreditando que os mais velhos ficaram obsoletos, sem condições sequer
de oferecer opinião. Diante desta realidade, que acabou ficando carregada de
preconceitos e exclusões, criou-se em 2003 o ESTATUTO DO IDOSO. O documento
apresenta benefícios e privilégios para as pessoas de idade avançada, bem como
chama a atenção daqueles que ficam diferentes à causa. Nos itens, encontramos
situações em que eles se beneficiam de preferências, os medicamentos que o
governo tem que repassar, a acessibilidade pelas ruas, bem como nos órgãos
públicos, as exigências para os asilos, aposentadoria, empréstimos e por aí
vai. Os idosos romperam anos a fio contribuindo, trabalhando muito, sendo bons
administradores do lar e do trabalho, cuidando e sendo cuidado, educando,
enfim, auxiliando a sociedade a evoluir. Hoje, porém, a saúde não permite mais
e é claro que eles não podem ser jogados na rua da amargura como se fossem um
zé ninguém. Mais que gratidão, precisamos reconhecer os seus valores e lhes
oferecer o melhor lugar do mundo para que possam usufruir até no momento que,
enfim, possam encerrar seu ciclo aqui na terra.
Chegamos a mais um final, hoje
focando as pessoas idosas. Muito ainda precisaria ser tratado, mas o espaço é
curto. O que nos resta a fazer é conscientizar a todos sobre os cuidados com os
idosos, tudo bem que alguns são ranzinzas, difíceis, não por que querem, mas
por serem vítimas da idade! Que por intercessão de São Vicente de Paulo, todos
as pessoas de idade avançada sejam abençoadas sempre!
Fonte: CLIENT