22 de agosto de 2021 às 08:08
REFÉNS DE UMA CULTURA
Crônica de ELIAS DANIEL deste domingo do dia 22 de agosto de 2021
O mundo chocou-se nesta semana
com as notícias vindas do Afeganistão. Com a saída das tropas americanas e a
fuga do presidente, o governo afegão foi tomado pelo grupo radical Talibã. Eles
seguem à risca as leis islâmicas propostas por Maomé e não admitem, dentre
outros assuntos, que as mulheres tenham liberdade e identidade. Com o objetivo
de entender um pouco esta cultura, a crônica de hoje entrará nos porões da
história e da atualidade do Oriente Médio.
Pra início de conversa, vamos
entender primeiro quem foi Maomé. Órfão deste cedo, ele se tornou um condutor
de caravanas, o que lhe possibilitou o contato com noções básicas do
cristianismo. Quando adulto, o futuro profeta passou a fazer retiros
espirituais e a ter visões divinas com mensagens que deveria divulgar. Começa
então o Islamismo, onde o profeta pregava o deus ALÁ. O livro sagrado utilizado
para a condução da igreja foi o Corão. A cidade sede foi MECA que até hoje
recebe os seus fiéis como obrigação doutrinária. Segundo as normas, os homens
devem ter autoridade sobre as mulheres e a não aceitação desta submissão
acarreta punição. Por estas e outras que aquele povo se solidificou como
seguidores do islamismo mesclando
cultura e religiosidade com muito rigor. Dentro deste radicalismo surgiram
grupos para fazer manter as ordens do islã. O terrorismo, por exemplo, foi
adotado como algo de combater os inimigos de Alá e nesta lista é incluída os
americanos. Um destes grupos, dirigidos por Osam Bin Laden causou um grande
massacre nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 com cinco ataques de
aviões, dois deles no Word Trade Center, as famosas torres gêmeas que eram
consideradas a estrutura em forma de prédio mais alta do mundo. Os Estados
Unidos acreditavam que o líder terrorista estava no Afeganistão e que o regime
talibã permitia que a Al-Qaeda, a organização terrorista de Bin Laden,
encontrasse refúgio para operar no país. Em resposta, a defesa militar dos EUA
providenciou uma coalizão que invadiu o Afeganistão em novembro daquele ano com
pesados ataques aéreos. Havia a crença que, além de esconder membros da
Al-Qaeda, o Talibã financiava o grupo terrorista responsável pelos ataques de
11 de setembro.
Com a interferência americana o
Afeganistão se viu livre do Talibã, embora ele nunca deixasse de existir. Neste
período o islamismo foi respeitado, mas com certas adaptações à modernidade,
dentre elas a participação das meninas na escola e o uso da internet. Na
verdade os EUA não ficaria com suas tropas naquele lugar para sempre, a ideia é
que fosse por um prazo aproximado de dez anos até que tudo se ajeitasse e a paz
pudesse reinar. Pela necessidade eles foram prorrogando e em abril deste ano deixariam
o país. O que ninguém imaginava é que o Talibã aproveitou para se fortalecer e
quando os americanos deram as costas, o grupo resolveu tomar de novo o país. O
presidente notando a sua impotência, fugiu abandonando o posto e de certa forma
facilitando a posse invasiva do novo governo revolucionário.
As cenas a seguir são
exatamente estas que estamos assistindo pela imprensa. O povo desesperou ao ver
as antigas normas sendo retomadas. Nos anos 90, por exemplo, as mulheres não
podiam trabalhar nem estudar e tinha de ficar confinadas em casa. Deveriam usar
apenas a burca, uma mortalha que só deixa os olhos à mostra. Além disso, os
homens tiveram de deixar a barba crescer. Filmes e livros ocidentais foram
proibidos e artefatos culturais vistos como blasfêmias sob o Islã foram
destruídos. Alguns afegãos continuaram a acessar produtos da cultura ocidental
em segredo, correndo o risco de punição extrema. Execuções públicas e
açoitamentos também eram comuns. E agora, em pleno 2021, soldados usam armas
pesadas para fazer valer a lei islã. A população, logicamente, desejou fugir de
tanta opressão, mas foi contida com o fechamento dos aeroportos.
Um fator que chama a atenção é
que a China reconheceu o governo talibã e certamente prestará todo o apoio
necessário. É fácil entender esta estratégia. Os chineses querem dominar o
mundo e bater de frente com os EUA é um caminho interessante. Neste ponto fica
uma preocupação generalizada, exatamente porque o problema foge da condição de
cultura particular com princípios religiosos para se tornar um assunto mundial.
Tudo bem que muitos países acabam se envolvendo ao receber os refugiados e por
causa de alguma dependência econômica e comercial, mas ao englobar EUA, CHINA e
a União Soviética que está reconhecendo também o governo Talibã, a situação
poder ficar bem mais complicada.
O propósito maior desta crônica
não foi fazer um tipo de julgamento, questões culturais e religiosas se
particularizam muito, mas quando o assunto envolve armas, mortificina, preconceito,
agressões, opressões, a perda da liberdade e identidade, é sinal que estão
andando na contramão da história. Doeu no coração de muita gente ver as
mulheres afegãs pedindo socorro, os homens tentando fugir com suas famílias. No
fundo aquela histeria coletiva dá a entender que não está nada normal as
atitudes dos líderes, mas a única coisa que podemos fazer infelizmente é rezar
por eles e torcer para que aquelas vidas sejam preservadas e que a cultura seja
reformulada.
E o encerramento ficará por conta de uma frase
de uma garota conhecida por MALALA, ela nasceu numa pequena cidade do Paquistão
no ano de 1997. Aos 15 anos foi baleada na cabeça pelo Talibã porque queria ir
para a escola e ter a sua condição de mulher respeitada. Lutou muito, venceu e
no ano de 1914 recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Assim ela disse: “Eles acham que Deus é um pequeno ser
conservador que mandaria garotas para o inferno apenas porque vão à escola. Os
terroristas estão deturpando o nome de Islã e da sociedade paquistanesa para
satisfazer seus próprios interesses”.
Fonte: CLIENT