02 de novembro de 2025 às 08:10

NOSSOS FIÉIS DEFUNTOS

Crônica de ELIAS DANIEL DE OLIVEIRA, lida e interpretada por Evaldo Carvalho no programa SHOW DE DOMINGO do dia 02 de novembro de 2025

>>> Os comentários poderão ser enviados para o e-mail: contato@radiocomunidadefm.com

Crédito:Parque Renascer

Hoje, dois de novembro, dia de celebrarmos os fiéis defuntos. Este tema norteará a nossa reflexão para tentar entender os motivos desta celebração, os mistérios por trás do assunto, as mais diversas culturas com seus hábitos, a interpretação bíblica e todo o misticismo que a morte sugere, vamos então desbravar os nossos pensamentos!

Já dizia o povão: "A única certeza que temos na vida, é que um dia morreremos". Da mesma forma que os objetos, reino animal e vegetal, a vida é passageira, só na dramaturgia e mitos que é possível falar em imortalidade. A incerteza de quando será o fim, deixa as pessoas atordoadas, o medo de morrer faz com que muitos fiquem inseguros e desconfiados. Mas a morte não avisa quando vai chegar, alguns novos já foram a óbito assim do nada, enquanto idosos com muitas doenças continuam firmes e fortes. Tem gente que sofre acidentes terríveis e saem ilesos enquanto outros com um simples escorregão não contam com o mesmo privilégio. Pessoas que já sobreviveram de quedas de avião, incêndios, afogamentos, tiros, câncer, cirurgias complicadas e por aí vai, por outro lado gente morrendo de gripe, de susto e vários outros motivos fúteis. Quem teria acesso a esse controle? Claro que muitos vão querer dizer que é Deus, mas convém analisar os fatos, somos todos vítimas da fragilidade humana e a participação divina cai noutro parâmetro, ele conhece sim o nosso destino, mas seria extremamente complicado interferir em cada movimento nosso, para isso Santo Agostinho já trabalhava a questão do livre arbítrio. Para todos os efeitos podemos contar com a sua misericórdia infinita, quando somos beneficiados pelos mais diversos livramentos, mas não acredite não morreremos nunca, sem nenhuma sombra de dúvida, um dia chegaremos ao fim.

O saudoso Raul Seixas em coautoria com Paulo Coelho, tem uma canção inspiradora sobre o tema, seu nome: CANÇÃO PARA A MINHA MORTE, nela ele reflete a mortalidade de forma ambígua, misturando aversão e aceitação. A letra explora a incerteza sobre como ela chegará, a dualidade entre temer e amar o fim e a esperança de que a vida continue de forma cíclica através da natureza. Acompanhemos: "Eu sei que determinada rua que eu já passei não tornará a ouvir o som dos meus passos. Tem uma revista que eu guardo há muitos anos e que nunca mais eu vou abrir. Cada vez que eu me despeço de uma pessoa pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez. A morte, surda, caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar. Com que rosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque? Na música que eu deixei para compor amanhã? Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada e que está em algum lugar me esperando, embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim, pois em qualquer lugar esperas só por mim e no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar. Vem, mas demore a chegar, eu te detesto e amo morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida. Qual será a forma da minha morte? Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida existem tantas... um acidente de carro... o coração que se recusa a bater no próximo minuto... a anestesia mal aplicada... a vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida... o câncer já espalhado e ainda escondido, ou até quem sabe, um escorregão idiota, num dia de Sol, a cabeça no meio-fio. Oh morte, tu que és tão forte, que matas o gato, o rato e o homem. Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar, que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva e que a erva alimente outro homem como eu, porque eu continuarei neste homem, nos meus filhos, na palavra rude que eu disse para alguém que não gostava".

As mais diversas culturas tratam o assunto morte de maneira diferenciada. Os espíritas, budistas e hinduístas acreditam na reencarnação, cada um com as suas particularidades. No Japão, influenciados pela cultura budista, a morte é uma ocasião de júbilo, pois marca o renascimento. Na cultura ocidental, há uma aversão à morte, que é vista como inimigo a ser combatido. Apesar de haver o conforto da fé em crenças religiosas, a discussão sobre o pós-vida e o vazio existencial são comuns. Para os cristãos e judeus, ela é a passagem para a vida eterna, mas as crenças variam. Para os católicos a pessoa é julgada e poderá ir pra o céu ou inferno, diferente um pouco do judaísmo. O dia dos mortos no México é baseado na tradição dos povos indígenas astecas e maias, que viam a morte como uma maneira de participar das forças divinas. No dia de finados, a família se reúne para celebrar a vida dos entes queridos que já partiram, enfeitando altares e oferecendo as comidas preferidas deles. Os indonésios tratam os parentes falecidos como se estivessem doentes e não mortos, vivendo com o corpo em casa por décadas, levando comida e mantendo companhia. Os rituais de despedida são alegres e cheios de energia, com brincadeiras e danças para ajudar a libertar o espírito. Os africanos acreditam que o espírito dos mortos continua a habitar o mundo dos vivos. Para os antigos egípcios, a morte não era vista como fim, mas como uma transição para a vida após a morte, que oferecia a chance de renascimento e felicidade eterna. A alma passava por um submundo após deixar o corpo. Na Itália, o corpo pode permanecer na casa da família por até sete dias para as despedidas.

A Bíblia vê a morte como um estado de inconsciência, um "sono" no qual a pessoa não sente nada, esperando a ressurreição futura. A morte é a separação do corpo ("pó da terra") e do "sopro de vida" dado por Deus, mas é vista como o fim da existência como a conhecemos até o dia do juízo final. No entanto, a Bíblia também oferece esperança na ressurreição e na promessa de uma nova vida eterna sem morte, dor ou sofrimento. 

Enfim, neste dia dois de novembro, a Igreja Católica celebra os Fiéis Defuntos homenageando-os, oferecendo orações, missas e indulgências por eles. É um momento para refletir sobre a esperança cristã na ressurreição e o mistério da vida humana. Padre Reginaldo Manzotti gosta muito de dizer que, ao visitar os mortos, encaremos como um "até breve", ao invés de lamuriar e ficar procurando respostas. Que esta celebração seja para nós momentos de reflexão!

Fonte: CLIENT

comentários

Estúdio Ao Vivo