13 de outubro de 2024 às 07:47
CRIANÇAS DE ONTEM E DE HOJE
Crônica de Elias Daniel de Oliveira, lida e interpretada por Evaldo Carvalho no dia 13 de outubro de 2024 no programa Show de Domingo
Ao celebrar o dia das crianças, nos sentimos na
obrigação de refletir sobre o assunto. A sociedade do futuro será perfeita se
hoje educarmos com qualidade os nossos filhos. Tudo bem que o sistema muito tem
interferido neste processo, mas a partir do momento em que criarmos princípios
para elas, certamente teremos sucesso no nosso intento.
Temos o hábito que querer lembrar com saudosismo os
nossos tempos de criança. Fizemos parte de uma época onde mal tínhamos
televisão com muitas opções de programas para assistir, preferíamos muito mais
brincar, ficar na rua, encontrar com os amigos, divertir com pipas, bolinhas de
gude, carrinho de rolimã, brincar de casinha e por aí vai. O celular era algo
que nem podíamos imaginar, na época existiam os telefones fixos e somente quem
tinha um bom poder aquisitivo conseguia comprar um, lembro de pessoas que
vendiam lotes para adquirir uma linha. A escola era um lugar especial, tínhamos
um enorme respeito pelos professores, se chegássemos em casa e disséssemos que
havíamos ganhado bronca deles, as mães chegavam a até colocar a gente de
castigo. Estudávamos feito malucos para as provas, tínhamos um medo enorme de
tirar notas baixas que até ousávamos fazer algumas colas para auxiliar no
momento. As brincadeiras eram sadias, as nossas pesquisas eram nos livros da
biblioteca, os nossos cadernos eram simples, encapados com folha de jornal ou
de saquinho de arroz, usávamos uniformes e fazíamos posição de sentido frente
cantando o Hino Nacional Brasileiro à bandeira em dias cívicos. Em casa
rezávamos com a família, íamos à missa juntos e obedecia aos pais. Os castigos
eram entendidos como correções necessárias e nunca questionamos por tê-los
recebidos. Hoje crescemos e nos deparamos com uma nova maneira de viver das
crianças. As pessoas mais velhas ainda, possuem uma dificuldade enorme de
aceitar certas atitudes, mas convenhamos que vivemos em outros tempos e as
adaptações acontecem de maneira natural.
Um provérbio oriental traz uma grande sabedoria:
"Homens fortes criam tempos fáceis, tempos fáceis geram homens fracos, mas
homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes".
Trouxemos para a geração atual boas condições de vida com muito conforto e vida
boa. A garotada de hoje não faz ideia o que é ter pouca roupa para vestir,
possuir apenas um ou dois tênis que normalmente eram o Conga ou o Kichute, um
chinelo de dedo que quando desgastava em baixo, deveria viver um pouco mais com
um prego na correia. Eles não fazem ideia o que é apagar as respostas de um
livro didático para poder reutilizá-lo e olha que diante de tantas facilidades
do mundo atual, elas ainda não valorizam o que tem. O mundo de hoje trouxe lá
do passado para uso desacerbado, os computadores, os carros, os aviões, enfim,
a tecnologia. Os celulares ocuparam todos os espaços, desde a criança, fazendo
um papel de babá ou professora até aos adultos com o seu mundo sério ou mesmo
com o idoso, para distraí-lo. De fato, não conseguimos imaginar como o mundo
sobreviveu sem eles, a sua eficiência tornou a vida mais prática, em
contrapartida trouxe consequências terríveis, como a ilusão, a fantasia, a
falsidade e a desumanidade a partir da materialidade.
Até parece que desviamos o assunto, mas não! Há uma
preocupação muito grande com as nossas crianças que estão sendo totalmente
manipuladas pelo sistema, algumas induzidas a não respeitar os pais e
professores, a não rezarem, a acharem brega tratar os mais velhos de senhor ou
senhora, de tomar bênção. Tudo isso tem proporcionando uma antecipação da fase
adulta, quando as vemos recusar escutar músicas infantis em detrimento das
demais que apresentam conteúdo carregado. Existem casos de famílias inteiras
saírem para trabalhar e não terem tempo para os filhos, que por sua vez vão para
uma creche ou mesmo ficam à mercê do que der e vier. A modernidade chegou ao
ponto de propor ideologias, como a de gênero, em que a criança já teria
condições de fazer as suas opções quanto ao sexo, mesmo indo contra os
princípios naturais. Os pais estão ficando acuados e muitos deles não sabem
mais como proceder, é comum ouvir na escola eles dizendo que não sabem como
educar os seus filhos e que já perderam o domínio.
Vivemos numa sociedade capitalista e consumista. As
crianças já não querem mais aqueles brinquedos educativos e instrutivos, mas
exigem roupas da moda e eletrônicos da última geração. Quando os pais dizem que
vão atender os seus pedidos, revoltam-se e caem num baixo astral, depressão e
por aí vai. Muitas delas ignoram as dificuldades, despesas e rendas do lar e
exigem ser os primeiros em tudo e o problema é que muitos pais não conseguem
mais vencer nos discursos tendo como oponente o sistema que as convence por
intermédio da internet, músicas, séries, filmes e ideologias diversas.
Até aqui pegamos bem pesado e até parece que todas
as crianças são assim, graças a Deus que não. Diante de uma sociedade carregada
de "mimimi", são sábios os pais que conseguem impor limites. Diríamos que elas
não têm culpa de ser assim, como ainda estão em fase de evolução, alguma
influência sofrerá e não é bom que seja do sistema. Neste ponto lembramos que a
família é o santuário sagrado para que os passos sejam os corretos. Rezar
juntos, distribuir tarefas, ensinar a respeitar, estudar e saber usar os
recursos tecnológicos com moderação. Quando elas conhecerem o mundo da porta
para fora, certamente levarão estes princípios e não será manipulada. É
interessante os pais mostrarem para os seus filhos que os "nãos" que recebem
dentro de casa é uma preciosa lição para os "nãos" da vida. Uma bronca ou
correção do pai ou da mãe dói muito menos que do policial. Ajudar nas tarefas
domésticas é uma verdadeira aula de disciplina, de não ter medo do trabalho, de
saber de suas responsabilidades, de mostrar que os homens também dentro de casa
precisam ajudar, de que está contribuindo da maneira que pode, enfim, de que
está apto a viver como uma pessoa normal.
Concluindo, desejamos que todas as crianças vivam intensamente as suas
infâncias. Que bom se os pais ou mesmo o sistema não impusessem sobre elas
cargas pesadas de responsabilidades. Que saibam educá-las com bons princípios
éticos e morais. Encerremos com uma frase do escritor Cláudio Nucci: "No amor
de uma criança tem tanta canção para nascer, carinho e confiança, vontade e razão
de viver".
Fonte: CLIENT