30 de abril de 2025 às 13:48

AMOR PRÓPRIO!

Crônica de Elias Daniel lida e interpretada por Evaldo Carvalho no Programa Show De Domingo no dia 27.04.2025

Crédito:istockphoto

Você tem sido uma boa pessoa para si mesmo? Uma pergunta interessante: se você pudesse comer suas próprias palavras, a sua alma seria nutrida ou seria envenenada? O amor próprio guiará o nosso caminho hoje!

Um fator ninguém pode negar, se você não se amar, não terá forças, compreensão e condições de amar os outros e também à Deus. O próprio Jesus tocou no assunto: "Ame ao próximo como a si mesmo" (Mateus 22:37–39), segundo ele, precisamos voltar a nossa atenção aos outros da mesma forma que fazemos o mesmo por nós. Há quem diga que o Mestre exagerou, não há cabimento equiparar o amor próprio com o próximo, ainda mais nem sendo conhecido. Trata-se de um desafio, a convivência é munida de regras, dentre elas uma pitada de simpatia, diálogo, afeição e estes ingredientes não teriam sentido se o amor não comandasse. Fácil não é, mas precisa ser trabalhado!

O "amar-se" é o principal antídoto para a resolução de todos os males. Funciona tanto psicológica, como fisicamente. A todo instante somos sobressaltados com o nosso inconsciente fazendo inúmeras cobranças e censuras, mas quando os elogios chegam, o nosso dia parece brilhar! Este controle é possível com a exercitação dos nossos sentidos, precisamos entender que a pessoa mais importante na face da terra, depois de Deus, sou eu! Cabe a mim montar as minhas alegrias para afugentar as tristezas e se por acaso elas vierem, ter forças para suportá-las e saná-las! Não se trata de uma atitude egocêntrica, tão somente a valorização da minha pessoa para poder entender as outras, amá-las e poder conviver com sabedoria.

Os exageros são doentios! Algumas pessoas se amam tanto que não consegue amar os outros, por se achar superiora a elas. Na Grécia Antiga, nos deparamos com o mito de Narciso. Trata-se de uma história da mitologia grega que fala sobre um jovem de extrema beleza. Segundo o mito, ele era tão belo que atraía a atenção de todos ao seu redor, tanto de homens quanto de mulheres. Narciso, no entanto, era conhecido por ser orgulhoso e desdenhoso, rejeitando todos aqueles que se apaixonavam por ele. Entre as figuras que foram rejeitadas por ele, estava Eco, uma ninfa condenada a repetir as últimas palavras que ouvia. Ao tentar expressar seu amor por Narciso, ela foi desprezada e, de tão humilhada, definhou até que restasse apenas sua voz, ecoando eternamente pelas montanhas. O desenlace do mito se dá quando, ao se aproximar de um lago cristalino, Narciso vê o próprio reflexo na água. Fascinado pela imagem, ele não percebe que está olhando para si mesmo e se apaixona perdidamente por seu reflexo. Incapaz de consumar esse amor, Narciso fica obcecado pela figura na água, recusando-se a sair dali. Ele acaba morrendo à beira do lago, incapaz de se afastar de seu próprio reflexo. Após sua morte, no lugar onde seu corpo caiu, nasceu a flor narciso, que leva o seu nome e simboliza a vaidade e o amor-próprio exacerbado. A lição do mito de Narciso são os perigos da vaidade e do amor-próprio desmedido; a obsessão consigo mesmo pode levar ao isolamento e à ruína.

Na nossa introdução apresentamos uma segunda indagação: "Uma pergunta interessante: se você pudesse comer suas próprias palavras, a sua alma seria nutrida ou seria envenenada?". Sendo eu o principal cuidador de mim mesmo, de que forma estaria organizando estes cuidados? Temos dois ouvidos e uma boca, para ouvir o dobro daquilo que se fala. Por diversas vezes falamos sem pensar e isto causa danos terríveis que afetam tanto o amor próprio como o alheio. Neste instante voltamos à primeira indagação: "Você tem sido uma boa pessoa para si mesmo?". Já dizia o poeta: "Quem ama, cuida!". Parodiamos também Renato Russo: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã". Notaram então esta faca de dois gumes? O amor próprio conjugado com o do outro. Quem possui esta intimidade consigo mesmo, consegue algumas proezas, como enxergar o mundo de acordo com a sua vontade. Vamos exemplificar? Se você acordar cedo de bom humor, parece que todas as pessoas que você encontrar, também estarão de bom humor, no entanto se você levantou mal humorado, parece que todo mundo está mal humorado.

A Banda Ultrage a Rigor, tem uma canção bem legal, gravada no ano de 1984 com o título "EU ME AMO", nela ele conta a história de um jovem que teve um desencanto no amor e percebeu que precisava se amar primeiro, se quisesse ser feliz, vamos a um pequeno trecho: "Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim. Como foi bom eu ter aparecido nessa minha vida já um tanto sofrida. Já não sabia mais o que fazer pra eu gostar de mim, me aceitar assim. Foi tão difícil pra eu me encontrar. É muito fácil um grande amor acabar, mas eu vou lutar por esse amor até o fim. Não vou mais deixar eu fugir de mim. Agora eu tenho uma razão pra viver, agora eu posso até gostar de você, completamente eu vou poder me entregar. É bem melhor você sabendo se amar".

O espelho é uma ferramenta que muito contribui para entender a necessidade do amor próprio. Ele já foi inspirador de uma das nossas crônicas passadas. Ao perceber a nossa imagem, como fez Narciso, somos levados ver alguém do outro lado que dá até a impressão de ser outra pessoa, mas, no fundo, somos nós mesmos. Este outro ser parece vigiar os nossos comportamentos e sentidos, mas a partir do momento em que se percebe o amor, acontece o controle da situação. A Psicanálise explica este feito, seria a aproximação do consciente com o inconsciente.

Chegamos a mais um final! Hoje abordando a questão do AMOR PRÓPRIO. Muitos tédios, depressões, nervosismos incontroláveis, ansiedade e descontrole mental advém do ódio que às vezes sentimos por nós mesmos. Apesar de tudo, precisamos nos desculpar constantemente e nunca perder esta paixão. Somos criados à imagem e semelhança de Deus e penso não necessitar de outro motivo para intensificarmos este amor. Encerro com um pensamento de Jô Soares: "Se for para mudar, mude pela única pessoa que vale a pena: você"

Fonte: CLIENT

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