31 de agosto de 2025 às 07:56

ADULTIZAÇÃO COMO PROBLEMA SOCIAL

Crônica de Elias Daniel de Oliveira, lida e interpretada por Evaldo Carvalho no programa Show de Domingo do dia 31 de agosto de 2025.

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Crédito:Jornal da USP

Diante das denúncias do influenciador digital Felipe Bressanim, o Felca, acerca da adultização de crianças, a nossa reflexão de hoje focará na defesa das crianças contra a pedofilia, abusos e o uso excessivo de diversos sistemas que tiram delas a infantilidade. A modernização não precisa abafar os princípios éticos, morais, físicos e psicológicos necessários ao desenvolvimento da pessoa.

Assim que a criança toma sentido na vida, as músicas da Galinha Pintadinha ainda lhes fazem companhia, tão logo começa a crescer, as intenções são outras. O interesse então pela cultura dos adultos começa a surgir proporcionando a queima de uma etapa importante para o desenvolvimento infantil. As letras carregadas de duplo sentido e com coreografias ousadas abafam as antigas cantigas, fazendo com que elas optem mais pelo funk, sertanejo universitário, dentre outros, com total aprovação dos pais. As emissoras de televisão aberta, bem como as de rádio, já extinguiram há muito tempo os programas infantis e as apresentações na escola das festas juninas já não usam mais canções típicas da data, enfim, o processo de adultização começa com estes simples gestos. Em se tratando de vestuário, a situação se complica de maneira igual, onde a moda dita os novos perfis que pouco contempla a infantilidade. Tudo isto acarreta um agravamento, exatamente porque este período inicial da vida precisa acontecer de maneira paulatina em prol de um desenvolvimento correto. Esta antecipação da vida adulta tem feito crianças assumirem responsabilidades precocemente, bem como engravidar sem nenhum preparo para ser mãe ou pai. 

Outro fator que vira um problemão, é o que concerne a marmanjos possuírem desejo sexual nas crianças, como se elas fossem adultas. A sensualidade delas ultrapassa a moderação, consentidas, muitas vezes, pelos pais. Nas escolas os uniformes não são mais obrigatórios, fazendo com que elas desfilem como numa festa, deixando desconsertados até mesmo os adolescentes que estão com os hormônios à flor da pele. Em se tratando de redes sociais, tudo intensifica. As frequentes postagens revelam menores como se fossem homens e mulheres com o objetivo de conquistar um público aguçado por sexualidade e prazeres. As exposições, mesmo censuradas pelas plataformas, servem de ferramenta para abruptos utilizarem destas imagens para comércios clandestinos ou mesmo pornografias aprimoradas pela Inteligência Artificial. Diante desta situação, a legislação brasileira intensificou a lei de proteção de dados punindo os abusadores, embora seja difícil driblar os tão bem preparados hackers.

Em entrevista ao Serginho Groisman, Felca comentou que a exposição na mídia acarreta muitas consequências e críticas que as crianças não estão preparadas para enfrentar ou se defender. O youtuber ganhou notoriedade com este tema, quando citou o então também influenciador Hitalo Santos que usava adolescentes para produzir conteúdos com cunho sexual acessados por adultos nas redes sociais. Felca, de acordo com o site G1, disse ainda que a seção de comentários de algumas dessas postagens reúne perfis que se oferecem para trocar material explícito envolvendo pessoas menores de 18 anos. Em se tratando de exploração social de menores, nos deparamos, recentemente com o caso daquele pastor mirim que atraia muita atenção pela sua maneira ousada de pregar e orar. Pelos comentários, o seu valor de apresentação girava em torno de dez mil reais, que, logicamente, tinha um ou mais adultos por traz se beneficiando. A sua fama estava fazendo com que ele tivesse tantos compromissos que a escola tinha ficado para segundo plano e, logicamente, a sua adolescência.

A Neurocientista Cristiane Guedes afirma que, "todos estes comportamentos ligados à adultização de crianças, são estímulos a comportamentos que destoam da sua idade cronológica e emocional, promovendo a aceleração das fases do desenvolvimento infantil, sem que se tenha a vivência, por falta de estimulações adequadas para a idade. O que leva as crianças a entrarem na realidade dos mais velhos sem reservas emocionais ou sem o desenvolvimento físico e psicológico adequados para viver essas experiências que não são reais, pois são do mundo do adulto". Uma vez não vivendo a sua natureza, sérios problemas psicológicos são esperados, dentre eles a autocobrança pela perfeição. A disputa presente não se limita aos coleguinhas, mas também ao mundo dos adultos, como se fizesse parte dele de maneira responsável. Ao abandonar simbolicamente a mentalidade infantil, a criança dá uma aparência de mais velha, sendo vítima fácil dos pedófilos ou mesmo das pessoas desiquilibradas. Estes "tarados" veem normalidade nos seus atos, sem pesar-lhes a consciência, mesmo depois da certeza que se tratava de uma criança.

Eu diria que o sistema é o principal culpado deste processo de adultização infantil. Os celulares, jogos eletrônicos, computadores, redes sociais, dentre outros ocuparam o lugar do encontro entre amigos na rua para brincar, jogar uma pelada, bater um papo, brincar, enfim, ser criança. Trancados dentro de um quarto, aprendem tudo que seria reservado a gente grande, como temas sexuais, conflitos, seriedades, estudos, pesquisas e esportes adultos. Aqueles que namoram, logo cedo já querem avançar o sinal, por assistir de maneira normal estas cenas pela telinha. O consumo de drogas tem chegado cedo à fase também, haja visto serem alvos preferidos dos traficantes, por não correrem o risco de serem presos.

Chegamos a mais um final, hoje tocando no assunto da adultização infantil que se torna constantemente um problema social. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado no ano de 1990, apresenta muita defesa à classe para evitar explorações e abusos, no entanto, o documento precisa ser aprimorado para evitar situações que acabam surgindo no decorrer do tempo, dentre elas a antecipação da maior idade em se tratando de costumes, atos e vivências. Para o desenvolvimento humano, todas as etapas precisam ser respeitadas de maneira ética e inteligente.

Fonte: CLIENT

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