03 de abril de 2022 às 08:03
A SOLIDÃO DE JESUS
Crônica de Elias Daniel de Oliveira lida e interpretada por Evaldo Carvalho no Programa Show de Domingo do dia 03 de abril de 2022
A crônica de hoje refletirá os
preparativos dos momentos mais tristes da vida de Jesus com o objetivo de mostrá-lo
como um homem que não merecia passar por tudo o que passou, no entanto se
submeteu a tantas torturas em prol da salvação dos cristãos e para cumprir o
que havia sido dito pelos profetas.
A litúrgica da quaresma mostra minuciosamente
este percurso até à cruz, mas fundamentalmente nesta semana a sequência deixou
muito clara todos os sentimentos de Jesus. É interessante que ele estava já se
sentindo sozinho mesmo no meio de seus discípulos e da multidão que o seguia. Todos
os evangelhos apresentavam certo desabafo pela maneira como as pessoas estavam
reagindo às suas pregações. Na condição de humano, deve ter ficado muito
desapontado com a reação do povo depois de tudo o que tinha feito. Mais do que
procurar a salvação, Jesus não tinha nenhuma dúvida que aquele monte de gente
que o seguia estava ali por interesse ou curiosidade. A certeza desta
afirmativa aconteceu na disputa entre ele o bandido Barrabás que saiu vitorioso
na opinião popular, mas deste assunto já já vamos tratar. Na leitura de segunda
feira já era possível notar uma primeira decepção, assim disse Jesus: "... um profeta não é bem aceito na sua
própria terra..." (João 4,44). Neste dia ele curou à distância o filho de
um funcionário do rei. Na terça feira, curou o paralítico às margens da piscina
de Betesda, até aí tudo bem, se não fosse no dia de sábado. A galerinha do
contra aproveitou para apimentar a situação e fez sérias críticas ao mestre por
não respeitar a tradição. Curioso que ao invés de se alegrarem pela cura
milagrosa, preferiram ignorar o fato e procurar caminhos para persegui-lo. O
evangelho da quarta revela Jesus desabafando, com um pequeno clima de depressão.
Na tentativa de se justificar dizia: "...
eu julgo conforme o que eu escuto, meu julgamento é justo, porque não procuro
fazer a minha vontade, mas a daquele que me enviou..." (João 5, 30). A
leitura é bem profunda, certamente tiveram muita dificuldade de entender. Na
quinta feira ele deu continuidade à sua fala mostrando a todos para que ele
veio e a sua insatisfação por não conseguir ser tão compreendido. Em todas as
leituras deixava claro que não estava inventando moda e nem doutrina e que era ele
o enviado de Deus conforme havia dito os profetas. "As obras que eu faço dão testemunho de mim, mostrando que o Pai me
enviou..." (João 5, 36b). Jesus chega a questioná-los se de fato eles tinham
conhecimento das sagradas escrituras diante de tamanha ignorância. "As Escrituras dão testemunho de mim, mas não
quereis vir a mim para ter a vida eterna..." (João 5, 39b-40). Na sexta
feira o evangelista já mostrava Jesus com medo de andar na Judeia, haja vista a
irritação dos judeus e o propósito de matá-lo. A liturgia de sábado que
funciona até o meio dia continuou mostrando esta perseguição. Para o final de
semana o evangelho começou dizendo que ele foi para o Monte das Oliveiras, com
toda certeza para orar e de madrugada voltou ao templo. Como não gostava de
perder tempo começou a falar de Deus e da salvação para aqueles que dele se
aproximavam até que foi questionado sobre uma polêmica, na verdade estavam era
procurando provas para condená-lo. Trouxeram-lhe uma prostituta prestes a ser
apedrejada conforme a lei dos profetas e aguardaram ansiosamente a resposta do
mestre para dar a cartada final. Jesus, com sua sabedoria, disse: "Quem entre vós nunca cometeu um pecado, que
seja o primeiro a atira-lhe a pedra..." (João 8,7). Não foi daquela vez que
conseguiriam os motivos para prendê-lo.
Dando uma acelerada na
história, partamos para o dia em que foi entregue para sua via crucis. Como não
conseguiram provas cabíveis, resolveram apelar e comprar um dos seus discípulos.
Provavelmente colocaram espiões no meio deles para sondar suas fraquezas, até
que viram no ganancioso Judas Iscariotes a pessoa certa para ajudar arquitetar
a sua prisão. Eles temiam pegar Jesus perto da multidão por medo de acontecer
uma revolta geral e o melhor a fazer seria naqueles momentos em que se retirava
para rezar. Não foi difícil chegar uma grana no traidor só para mostrar onde
era o local de recolhimento. Uma vez preso, Jesus foi parar nas mãos de
Pilatos, o responsável pelo seu julgamento. Uma verdade precisa ser dita, Pilatos
não queria condená-lo, era muita pressão por parte dos judeus. Ele chegou a
devolver o réu para Herodes que tinha a intenção de matá-lo desde criança, mas
Herodes se recusou e devolveu para Pilatos que tremeu e tentou tirar do próprio
Jesus os motivos de sua condenação, mas, sem muito sucesso, pensou ter uma
ideia brilhante ao jogar nas mãos do povo. Acreditava ele que o fato de muitos
o procurarem, certamente poderia livrá-lo. Como argumento, recorreu a uma antiga
tradição que libertava um preso na Páscoa e para aliviar a pele de Jesus pegou
o pior bandido do momento, Barrabás. Não tinha como dar errado, mas deu. O povo
estava cego com a lavagem cerebral proporcionada pelos judeus que aos berros pediam
a condenação do Filho de Deus. Francamente Pilatos não acreditou, simplesmente
disse que lavaria suas mãos, como se dissesse que não tinha mais nada a fazer.
Naquele instante entregou aos soldados que tinham sangue frio e prazer em
torturar, independente de quem fosse. A continuidade da história nós já
conhecemos, não é?
Assistir à cena do povo gritando "Crucifica-o" faz com que os nossos
corações fiquem agitados por ver tamanha ignorância de pessoas que, com certeza,
também se beneficiaram da presença de Jesus. Eles estavam sendo movidos por uma
ideologia guiada pelos judeus para agirem daquela forma. O problema é que ainda
hoje é possível encontrar gente assim que se deixa levar por modismos,
discursos de ódio, desamor e intolerância. Bom seria que as mentes fossem
utilizadas para a sua real função que é o de pensar, raciocinar, evoluir e ser
útil. Nestes dias de solidão de Jesus que nós possamos fazer companhia pra ele
e vivenciar com muita alegria a Páscoa que há de vir.
Fonte: CLIENT